Uma mulher e a nossa afectividade

O evangelho de hoje, a mulher pecadora (Lc 7,36-50), «fala» da nossa afectividade por meio de uma mulher. Sempre que nós pensamos construir a nossa vida a partir do racional, achando que podemos manter a nossa afectividade «do lado de fora» (quem sabe trancada num armário), ela «entra», mesmo sem ter sido convidada e começa a espalhar o seu perfume, a fazer sentir a sua presença. É a forma que a nossa afectividade encontra para nos dizer que não podemos ignorá-la. Mas o choro desta mulher, conhecida como «pecadora», indica que a nossa afectividade está magoada. A palavra «pecado» significa «errar o alvo». O alvo da nossa afectividade é o desejo de amar e ser amado que todo ser humano traz dentro de si. Mas nessa experiência de amar e ser amado todos nós já magoamos alguém ou fomos magoados por alguém. Todos nós já cometemos erros em lidar com a nossa afectividade. A agravante é que o mundo nos convida a reduzir os nossos afectos a sensações momentâneas de prazer: o importante é ter sensações, experimentar emoções intensas agora, não importando com quem e de que maneira. Depois que essas sensações e emoções passam – e elas sempre passam – sentimo-nos vazios, ao invés de nos sentir como quem amou de verdade e foi amado de verdade por alguém.
O fariseu, no silêncio do seu coração, criticou Jesus por se deixar tocar por uma «pecadora». Por sua vez, Jesus questiona o fato de o fariseu tentar se comportar na frente dele como se não tivesse afectividade: sem água para lavar os pés, sem o beijo da saudação, sem o perfume na cabeça. Quem de nós reza a Deus a partir da sua afectividade e da sua sexualidade, e não apenas a partir da sua cabeça, das suas ideias e dos seus pensamentos, os quais normalmente censuram o que os nossos afectos querem dizer a Deus na oração?
O evangelho de hoje convida a nossa afectividade a se aproximar de Jesus, aquele que viveu a sua afectividade amando a Deus com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças, para amar com o coração de Deus cada pessoa. Que Deus te conceda a graça de um diálogo sincero, maduro, reconciliador e redentor com os teus afectos.

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