Nossa Senhora


Tenho ao cimo da escada, de maneira
Que logo, entrando, os olhos me dão nela,

Uma Nossa senhora de madeira

Arrancada a um Calvário de capela.

Põe as mãos com fervor e angústia.
O manto
Cobre-lhe a testa, os ombros, cai composto;
E uma expressão de febre e espanto

Quase lhe afeia o fino rosto.

Mãe das Dores, seus olhos enevoados

Olham, chorosos, fixos, muito além...

E eu, ao passar, detenho os passos apressados,

Peço-lhe:
- "A sua bênção, Mãe!"

Sim, fazemo-nos boa companhia,

E não me assusta a sua dor: quase me apraz.

O filho dessa Mãe nunca mais morre. Aleluia!

Só isto bastaria a me dar paz.

-"Por que choras, Mulher?" - docemente a repreendo,

Mas à minh'alma, então, chega de longe a sua voz

Que eu bem entendo:

-"Não é por Ele..."

-"Eu sei! teus filhos somos nós."


José Régio

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